segunda-feira, 16 de março de 2009

Como pássaro ferido...


Vi-a num dia de chuva miudinha, quando passeava por entre as árvores despidas de folhas verdes. Já sabia da sua existência, mas só naquele preciso momento me dei conta de que era verdadeiramente real e sofria. Vi-a no chão sangrando e apanhei-a como apanharia um pássaro ferido. Envolvi-a em pedaços de algodão macio e acarinhei-a. Disse-lhe palavras ternas e falei-lhe dos sítios magníficos para onde poderia um dia voar. Durante algum tempo cuidei dela e ficamos ligadas para sempre. Nunca deixo de a sentir. Mesmo agora que voou pelo céu aberto, sinto-a sempre, esteja onde estiver. Quando sofre eu sei, quando ri eu sei e quando ama também sei. Na outra noite sentia-a chorar e fiquei triste. Queria passar-lhe a mão na cabeça e jurar-lhe que tudo vai passar e ficar bem, mas não posso. Sinto a minha alma mas não a vejo. Sei que deve andar escondida por entre as arvores, soluçando escondida do mundo que lhe faz mal. Vou ficar atenta, não vá cair novamente no chão e não haver ninguém por perto para a apanhar.

1 comentário:

Anónimo disse...

Beleza esta escrita, cujo sentimento está recheado de alegorias!!!!
A nossa alma é mesmo um fantasma, que, da nossa sombra emerge, sem quase nunca ser "apanhada"...quase...porque, por vezes em horas de desespero a vislumbramos, fugidia, é certo, mas é a hora em que por breves instantes se deixa reflectir.
abraço
meg