quarta-feira, 25 de março de 2009

Eu


Por fora não se vê nada. Entre beijos em bochechas fofas e infantis e ralhetes acidentais, entre jantares e pequenos-almoços e estender roupa para secar, sou simplesmente uma mulher normal. Também no trabalho sou uma mulher normal, de saltos altos organizo papeis e distribuo bons dias. Vêem-me passar e não vêem nada. Vou às compras e ao ginásio. E também rio e choro e grito e ralho e murmuro e suspiro e como e corro e faço tudo o que faz uma mulher normal. No entanto, quando olho dentro de mim vejo uma pessoa sem idade, desejosa de liberdade, aflita por amor. Por fora não se vê nada. Não se vê que sofro, que me debato com os meus monstros. Por fora não se vê que sonho com lugares mágicos onde não é preciso chorar. Por dentro sou eu, sem véus diáfanos a cobrir-me o rosto. Ninguém me conhece, ninguém sabe quem eu sou. O que conhecem de mim é apenas uma pequena parte. O resto está escondido numa alma sufocada pela rotina e que ninguém quer conhecer. Por dentro de mim há um mundo de emoções e de sensações que ninguém suspeita. Mas por fora não se vê nada. Sou uma mulher normal.

1 comentário:

Meg disse...

A melhor mulher é aquela da qual não se fala nem bem nem mal
Tucídedes